General Freire Gomes, o “santinho” da república - A Nova Democracia


Author: Jaílson de Souza
Categories: Situação Política
Description: A julgar pelas suas desculpinhas, estamos diante de um santo. Mas a realidade o desmascara. Estamos diante de um amoitado! Talvez por isso Braga Neto tenha lhe apelidado com aquele epíteto grosseiro. Trata-se do general que será lembrado como aquele que aguardou até o último lance pela definição dos fatos, para escolher qual lado seguir.
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Modified Time: 2024-03-04T19:02:13-03:00
Published Time: 2024-03-04T18-38-07-03-00
Sections: Situação Política
Tags: golpe de Estado, golpe militar
Type: article
Updated Time: 2024-03-04T19:02:13-03:00
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O general Freire Gomes, então comandante do Exército à época da agitação golpista de 2022, falou por mais de sete horas aos investigadores. O articulista do Estadão, Marcelo Godoy, que teve acesso ao depoimento, afirmou que o general atribuiu ao Bolsonaro e a problemas pessoais algumas de suas atitudes, ou falta de.

O general disse, por exemplo, que realmente impediu a desmontagem dos acampamentos golpistas em frente às instalações do Exército. Inclusive, admitiu que chegou mesmo a dar uma contraordem ao comandante militar do Planalto, que em 29 de dezembro havia exigido a retirada dos acampamentos em Brasília: Gomes se interpôs, repreendeu seu subordinado e ordenou que os “galinhas verdes” ficassem ali, pois temia se chocar com o então presidente. No dia 8 de janeiro, dez dias depois, a turba de direitistas extremistas saiu dali para invadir as instalações do governo, STF e Congresso, e para lá voltou. Quem quer que tenha comandado aquele troço deve agradecer ao general Freire Gomes pela logística estratégica fornecida.

Foi esse mesmo general que assinou – junto com os outros dois comandantes de Forças Armadas – a nota oficial, de 11 de novembro de 2022, na qual tratava os pedidos por intervenção militar de “manifestações democráticas”. E dizia mais: que era necessário não proceder “à censura” destes manifestantes, fazendo coro com o bolsonarismo.

Gomes também confirmou que houve reuniões, em que esteve presente, junto a Bolsonaro e nas quais tomou conhecimento do projeto de decreto de Estado de Defesa e Estado de Sítio. Não só: o próprio Freire Gomes recebia informes, diretamente do ex-ajudante-de-ordens de Bolsonaro, o X-9 Mauro Cid. “Hoje, ele mexeu muito naquele decreto, né. Ele reduziu bastante. Fez algo mais direto, objetivo e curto e limitado”, disse o delator ao general, em mensagem, como a sugerir que tal modificação demonstrava que Bolsonaro fora convencido. Mas por quem, e a quê?

Mas não foi apenas isso. Foi durante o comando de Freire Gomes que o Exército participou da Comissão de Transparência Eleitoral (abril-maio em diante), fazendo indagações enviesadas com objetivo de sustentar uma suspeita, que mais tarde, foi utilizada justamente por Bolsonaro para sua agitação de ruptura.

Para todas as suspeitas, Freire Gomes tem a mesma resposta, genérica e abrangente: tudo que fez – e o que não fez – foi por hierarquia, sob ordens de Bolsonaro ou com o objetivo de não se insubordinar para evitar agravar a crise. O resultado foi justamente o contrário: a crise se agravou até a iminência da ruptura institucional, o que prova ser apenas meia-verdade a palavra do general. Disse, por fim, que embora soubesse de tudo, nada disse, pois não teria como provar, seria desacreditado e substituído por alguém propenso ao golpe. Sim, até porque “ninguém nunca acreditaria” que Bolsonaro estava preparando uma ruptura, e seria mesmo “muito difícil” provar algo contra ele (como agora se está provando, com uma facilidade inacreditável!).

A julgar pelas suas desculpinhas, estamos diante de Freire Gomes, o Santo . Mas a realidade o desmascara. Estamos diante de Freire Gomes, o Amoitado ! Talvez por isso Braga Neto tenha lhe apelidado com aquele epíteto grosseiro. Trata-se do general que será lembrado como aquele que aguardou até o último lance pela definição dos fatos, para escolher qual lado seguir.

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