Delação de Cid sobre reuniões golpistas comprovam alta participação de oficiais no plano golpista de Bolsonaro e omissão de Freire Gomes - A Nova Democracia


Author: Enrico Di Gregorio
Categories: Situação Política
Description: A informação ao mesmo tempo revela o nível de participação de militares da alta oficialidade nos planos golpistas de extrema-direita, e comprovam o conhecimento e omissão dos outros generais acerca da ruptura institucional.
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Modified Time: 2024-03-13T16:37:00-03:00
Published Time: 2024-03-14T03:36:58+08:00
Sections: Situação Política
Tags: golpe militar
Type: article
Updated Time: 2024-03-13T16:37:00-03:00
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O tenente-coronel Mauro Cid confirmou, em delação premiada à Polícia Federal (PF), que Bolsonaro realizou ao menos cinco encontros com militares de alto escalão para discutir planos golpistas. A informação, divulgada em coluna de Bela Megale, do jornal monopolista O Globo, ao mesmo tempo revela o nível de participação de militares da alta oficialidade nos planos golpistas de extrema-direita, e comprovam o conhecimento e omissão dos outros generais acerca da ruptura institucional.

A primeira reunião delatada ocorreu em julho de 2022. Com presença de ministros e militares, foi nela que Bolsonaro anunciou escancaradamente um plano golpista e generais como Augusto Heleno afirmaram que, se fosse “para virar a mesa”, teria que ser “antes das eleições”. Uma filmagem completa da reunião, que registrou o posicionamentos de outros ministros e militares favoráveis à ruptura, foi encontrada no computador de Cid e disponibilizada na íntegra na imprensa no último mês.

Uma outra reunião foi a do 7 de dezembro de 2022, na qual participaram os comandantes das Forças Armadas. Nela, Bolsonaro apresentou a chamada “minuta do golpe” aos comandantes, e o almirante Almir Garnier concordou em colocar as tropas à disposição de Bolsonaro. Essa reunião é uma das provas centrais de que o ex-comandante do Exército, hoje tido como “legalista” por determinados setores comprometidos com a caserna, estava plenamente ciente dos planos de ruptura institucional. É sabido também que outros generais, como Estavam Theophilo, participaram de reuniões com o mesmo teor a pedido de Gomes. As versões põem em xeque a imagem que o ex-comandante busca propagandear acerca de si mesmo como “contrário ao golpe”. No máximo, Freire Gomes foi contra (mas nada fez para impedir) a ruptura, mas deu cabo a diversos movimentos favoráveis à intervenção do Alto Comando das Forças Armadas na vida política nacional, como desenhado pelos generais preferíveis de um golpe velado no País.

Já ao final do ano, Bolsonaro se reuniu duas vezes com oficiais para pensar a atuação dos militares reacionários em manifestações de extrema-direita. Uma delas ocorreu com o major com formação nas forças especiais ( kids preto), Rafael Martins, em Brasília, no dia 12 de dezembro. Martins é conhecido por ter pedido, dias após a reunião, R$ 100 mil a Mauro Cid para bancar a viagem dos galinhas verdes para Brasília e ter pedido orientações de “locais para as manifestações”, onde os kids preto atuariam junto aos celerados de extrema-direita. Na reunião do dia 12/12, o major discutiu com Bolsonaro “assuntos relacionados à estratégia golpista”, segundo as informações divulgadas por Megale. O segundo encontro desse tipo ocorreu no dia 28/12 e contou com o coronel Bernardo Romão Correia Neto, assistente do Comando Militar do Sul e formado nas “forças especiais”. Além de Romão, participaram da reunião assessores de generais favoráveis ao golpe e outros forças especiais. Segundo Cid, Romão foi responsável por ter selecionado os convidados para a reunião.

No fundo, há pouco de novo nas novas informações reveladas sobre a delação de Cid. Não deixa de ser importante, contudo, a remarcação da comprovação da omissão de generais como Freire Gomes frente à ruptura institucional, justamente porque não são, no essencial, discordantes do golpe. Somente discordam de como fazê-lo e quando fazê-lo. Além disso, é digno de nota como cresce a lista dos militares de alta oficialidade que comprovadamente tomaram parte nos planos da ruptura institucional, prova também da essência golpista das Forças Armadas reacionárias brasileiras, difundida de cima a baixo da instituição militar. Os nomes vão desde os generais, intermediados ou não pelos assessores, até coronéis e majores.

Source: https://anovademocracia.com.br/delacao-de-cid-sobre-reunioes-golpistas-comprovam-alta-participacao-de-oficiais-no-plano-golpista-de-bolsonaro-e-omissao-de-freire-gomes/