No dia 18 de março, cerca de 100 posseiros das comunidades Barro Branco, Furnas, Cabugi, Monteiro, Caiana, Morcego, Caixa D’agua, Tenório e Sítio Grande, situadas na zona rural do município de Jaqueira, em Pernambuco (PE), organizados pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), uniram-se para retomar suas fontes d’água que foram cercadas pela empresa latifundiária Agropecuária Mata Sul S/A, pertencente ao latifundiário Guilherme Maranhão.
Desde 2015, quando iniciou o roubo das terras e das fontes de água, os camponeses vivem e produzem nas terras da antiga usina Frei Caneca. O latifundiário Guilherme Maranhão apoiado pelo ex-governador Paulo Camara, instalou grupos de pistolagem que ameaçam toda população para expandir a criação de gado de corte para exportação internacional através do frigorífico Masterboi.
Apesar das extensas provas de envenenamento das águas com agrotóxicos lançados pelos latifundiários (além da contaminação das fontes com fezes e urina de gado), o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) nunca abriram nenhum inquérito criminal contra a empresa latifundiária Agropecuária Mata Sul S/A.
Por isso, os camponeses decidiram em Assembleia Popular realizar um grande ato para retomar as fontes d’água do latifúndio. A convocação atingiu toda população do município com panfletagem nas feiras e em todas as comunidades camponesas afetadas por este crime ambiental e contra a saúde do povo. Os camponeses também organizaram mutirões para limpeza e demarcação das fontes d’água, com 50 metros de distância das criações de gado e das plantações de eucalipto do latifundiário.
Para realizar todo esse trabalho, os posseiros contaram com apoio dos camponeses da Área Revolucionária José Ricardo e dos jovens estudantes do Movimento Mangue Vermelho. Eles ajudaram a limpar o mato e a demarcar as cercas para proteger as fontes d’água embaixo de Sol escaldante. Ademais, enfrentaram com combatividade as provocações dos latifundiários junto com todo povo.
Assim que os camponeses encerraram o mutirão da primeira fonte d’água do dia, com muito ânimo de luta, cantando canções populares e gritando palavras de ordem, meia dúzia de pistoleiros do latifúndio apareceram com trator, picapes, motos e quadriciclos. Os pistoleiros chegaram com estacas, arames e mudas de eucalipto para instalar na mesma área que os camponeses acabavam de limpar. Quando a marcha camponesa cruzou com os bandidos, os enviados do latifúndio passaram a ameaçar os camponeses com armas de fogo. A tensão resultou em confronto, e três pistoleiros ficaram feridos e um drone do latifúndio foi despedaçado pelas massas populares em fúria contra a pistolagem
Neste mesmo dia 18 de março, o Promotor Agrário do MPPE, os agentes do CPRH, representantes do Comitê Estadual de Acompanhamento dos Conflitos Agrários (CEACA), representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Federação dos Trabalhadores e Agricultores de Pernambuco (FETAPE), a Prefeita Ridete Pellegrino e vereadores de Jaqueira, além de advogados da empresa latifundiária Agropecuária Mata Sul S/A, realizavam visitas para investigar denúncias do latifundiário contra os camponeses. Segundo informações, esta Comissão não visitou as fontes d’água dos camponeses, apenas os locais indicados pelos latifundiários.
Porém, a ação contundente dos camponeses forçou toda esta comissão a se apresentar no local do ato e aceitar dois advogados da Associação Brasileira dos Advogados do Povo (Abrapo) e o presidente da Associação dos Posseiros de Barro Branco na comissão e ainda tiveram que aceitar os termos do povo na audiência que precisaram mobilizar as pressas.
Ao final, o MPPE acatou proposta dos camponeses representados pela Abrapo para criação de “Corredor das águas”, para demarcar todas as fontes d’água para o povo. O latifundiário foi intimado a pagar pelas estacas e pelos arames, a Prefeitura enviará funcionários para executar o trabalho e a Secretaria Estadual de meio ambiente ficou de examinar as águas do povo para determinar a contaminação e abrir inquérito criminal contra latifundiário.
Após a audiência, os pistoleiros de Guilherme Maranhão pediram reforço a Polícia Militar de Pernambuco (PM-PE) para plantar eucalipto em uma das fontes d’água que os camponeses haviam limpado em mutirão e o advogado do latifundiário Eduardo Figueredo anunciou que realizarão ação militar para expulsar as famílias camponesas das áreas próximas das matas.
Duas viaturas foram enviadas para fazer a segurança dos pistoleiros para continuar agindo contra o povo. Isso não é um ato de coragem, mas sim de covardia diante da pequena demonstração de força dos camponeses unidos e organizados pela Revolução Agrária. Também demonstra o quanto as forças militares deste velho Estado estão comprometidas em proteger os interesses dos latifundiários e promover desgraças para população pobre do campo e da cidade.
Os camponeses posseiros das terras da antiga usina Frei Caneca estão decididos a retomar todas as suas fontes de água e as suas terras de volta das mãos do latifundiário. Desta forma, convocam todos os camponeses da zona da mata sul de Pernambuco a se levantarem contra os grupos de pistolagem das empresas latifundiárias e as forças militares deste velho Estado. Sem destruir o latifúndio nunca haverá justiça para o povo pobre do campo.