Na manhã do dia 14, moradores do Jardim das Oliveiras II, no norte de Guarulhos, protestaram contra uma ordem de reintegração de posse no bairro. A Polícia Militar atacou os trabalhadores e deteve uma pessoa. Os moradores apontam a irregularidade do processo, enquanto o Estado tem levado terror à população guarulhense.
Ao ser notificados sobre a ação judicial de reintegração de posse, os moradores fecharam bem cedo a Avenida do Elenco com pneus e atearam fogo neles. A polícia apareceu e atirou bombas de dispersão contra as pessoas ali. A ex-vereadora Fernanda Curti foi levada em custódia acusada de obstrução de via e “depredação do patrimônio público”.
O movimento relata que um homem reclama a posse da terra e formou uma cooperativa para sistematizar a cobrança por ela. Essa região de Guarulhos é conhecida pelas ocupações de terrenos inutilizados, e há famílias habitando a área desde antes da reivindicação. Algumas já vinham pagando aluguel mesmo para terceiros e agora são cobradas pelo valor da posse de um terreno sem loteamento regularizado, sob contratos valendo até R$ 400 mil.
O movimento por moradia se manifestou também no dia 27 de fevereiro. Primeiro, os moradores fizeram uma passeata que fechou a Avenida Tiradentes até chegar ao prédio da Prefeitura. Quando o prefeito reacionário Gustavo Costa (PSD) se negou a recebê-los, eles se decidiram por realizar um trancamento na Rodovia Hélio Smidt, que dá acesso ao Aeroporto
Coleguismo entre prefeito e magnatas
O bairro carece de infraestrutura urbana, uma vez que a prefeitura nega o direito das famílias às casas e o resguarda o direito de negar a pavimentação das ruas. Os moradores denunciam coleguismo entre os governantes e os supostos donos dos imóveis. A Paróquia Santa Paulina, frequentada por gente de toda a região, também está inclusa na área ameaçada de reintegração.
Não seria o primeiro caso de benefício por parte da prefeitura à magnatas aliados. Recentemente, Gustavo Costa mais 24 políticos, empresários, e funcionários privilegiados foram condenados no Tribunal de Justiça de São Paulo a perda de cargo público por improbidade administrativa. A acusação se refere à demolição em 2010 do Casarão Saraceni, permitida pela prefeitura, para a expansão do estacionamento do Internacional Shopping. Para justificá-la, o prefeito, em nome dos interesses seus e de seus aliados, emitiu o destombamento do prédio, negando o significado histórico deste, como na urbanização do município e no Levante Constitucionalista de 1932.
Embora a determinação tenha vindo tarde demais para evitar o crime, a ocasião demonstra a disposição que os políticos têm para defender os interesses das classes dominantes. Àqueles que labutam dia a dia, mantendo e alimentando o município e o país, resta apenas as promessas, as migalhas, e o descaso. Ademais, os crimes contra o povo se repetem constantemente, provando-se não exceções praticadas por maçãs podres, mas sim a regra de um sistema podre.
O Estado violenta os trabalhadores e privilegia os ricaços
Essa não foi a primeira vez no ano em que a PM atacou com violência repressiva os trabalhadores na região de Guarulhos. O movimento Mandela Free denunciou que, na última semana de fevereiro, policiais estiveram praticando abordagens abusivas e invadindo casas nas favelas São Rafael e do Coruja. Um protesto contra a falta de energia terminou com intervenção truculenta.
Os ataques são parte das ações de Operação Escudo prometidas pelo governador Tarcísio de Freitas contra o povo paulista. Elas têm o intuito de aterrorizá-lo como punição coletiva pelas mortes de policiais.
Shopping Internacional se pronuncia
Após a publicação desta matéria, o shopping enviou uma nota ao E :
Em matéria com título “SP: Moradores combatem reintegração de posse sob bombas da PM”, no último parágrafo consta a menção do Internacional Shopping relacionado à demolição do Casarão Saraceni.
Destacamos e informamos que a nova gestão do empreendimento, que se iniciou em dezembro de 2017 na compra do Internacional Shopping pela Gazit Brasil, não esteve envolvida com o caso citado, estando atrelado à antiga administração.