General que nomeou delegado da Polícia Civil envolvido no caso Marielle é o novo chefe do Estado-Maior do Exército - A Nova Democracia


Author: Enrico Di Gregorio
Categories: Situação Política
Description: Quem indicou Barbosa primeiramente foi o setor de inteligência do Comando Militar Leste (CML) do Exército, junto de outros quatro nomes. O CML era comandado por Braga Netto, interventor no Rio de Janeiro. Ao fim, Nunes bancou a nomeação apesar das contraindicações da Polícia Civil.
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Modified Time: 2024-04-01T16:48:32-03:00
Published Time: 2024-04-02T02:39:15+08:00
Sections: Situação Política
Tags: caso marielle, Governo Lula
Type: article
Updated Time: 2024-04-01T16:48:32-03:00
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O general Richard Nunes, que nomeou um dos envolvidos no caso Marielle, Rivaldo Barbosa, para a chefia da Polícia Civil em 2018, foi nomeado no dia 28 de março para o cargo de chefe do Estado-Maior do Exército. A indicação de Rivaldo, apontado como planejador da execução de Marielle, ocorreu um dia antes do assassinato da vereadora, quando o Rio de Janeiro passava pela intervenção militar comandada pelo general Braga Netto. A nova nomeação de Nunes foi indicada pelo comandante do Exército, Tomás Paiva, e aprovada por Luiz Inácio.

O chefe do Estado-Maior do Exército (EME) é responsável por “estudar, planejar, orientar, coordenar, controlar e avaliar as atividades relativas à atuação do Comando do Exército, segundo as decisões e diretrizes do Comandante do Exército”. É um dos mais altos cargos da força terrestre.

Quatro dias antes da nomeação, o relatório da Polícia Federal sobre o caso Marielle havia apontado que Richard Nunes foi o responsável por nomear Rivaldo Barbosa para o chefe de Polícia Civil. Quem indicou Barbosa primeiramente foi o setor de inteligência do Comando Militar Leste (CML) do Exército, junto de outros quatro nomes. O CML era comandado por Braga Netto, interventor no Rio de Janeiro. No sentido contrário, Barbosa chegou a ser contraindicado pelo setor de inteligência da Polícia Civil. Mesmo assim, Nunes insistiu na indicação e “bancou” a nomeação final de Barbosa ao cargo.

‘Ludibriado’ ou interessado?

Questionado pelo jornal monopolista Folha de São Paulo sobre a nomeação, Nunes afirmou que “naquela época, não havia nada que sinalizasse uma coisa dessas, uma coisa estapafúrdia” e que “pode ter sido ludibriado” por Barbosa na nomeação. Contudo, não explicou o porque insistiu na nomeação apesar da contraindicação clara.

Depois, em resposta ao mesmo jornal, Nunes chegou a questionar o envolvimento de Barbosa, talvez em tentativa de “limpar a barra”: “é isso que está estranho para a minha cabeça até o momento. Se realmente houve essa procrastinação de cinco anos, não foi do Rivaldo e do Giniton. Porque eles, com um ano, prenderam os caras [os executores do crime]”.

Independente se Nunes sabia ou não dos planos de Rivaldo de participar do assassinato de Marielle, a postura do general foi suspeita, e merece investigação. O que merece atenção agora, além disso, é a indicação de Nunes para o EME por parte de Tomás Paiva. Quais os interesses de blindar, com uma nomeação tão elevada, um general (já difícil de ser investigado) envolvido em condições tão suspeitas?

Caso em aberto

A Polícia Federal diz que “encerrou o caso” e entregou o “relatório final”, mas ainda há lacunas a serem investigadas, como a própria negligência do Exército reacionário e também o envolvimento nítido da extrema-direita, destacadamente a família Bolsonaro, com diversos dos envolvidos no caso Marielle, a título de exemplo os motorista e executor, respectivamente Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa, e os possíveis mandantes, Chiquinho e Domingos Brazão.

A cada dia que passa, essas lacunas ficam ainda evidentes. A nomeação absurda, incoerente e absolutamente questionável de Tomás Miguel Miné Paiva não pode impedir que Nunes, bem como o general Braga Netto, sejam questionados sobre os eventos de 2018. Além da nomeação de Rivaldo, o porquê que o Exército, que interviu em tantos aspectos da “segurança pública” do Rio aqueles anos, se negou a ir a fundo no caso Marielle.

E o governo?

A reabertura e aprofundamento das investigações também dependem do governo. Porém, imediatamente após a divulgação dos nomes dos mandantes, o ministro da Justiça de Luiz Inácio comemorou o que chamou de “trabalhos encerrados” e “vitória do Estado sobre o crime organizado”.

O próprio mandatário ficou em silêncio sobre o tema, mas parece que também considera o trabalho como encerrado: em um jantar mais reservado no dia 25/03, limitou-se a exaltar o trabalho da Polícia Federal e condenar o envolvimento de políticos no assassinato, além de falar que não faria caso da solução porque não é um evento que tenha algo a ser celebrado.

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