Camponeses posseiros do município de Messias, Alagoas , que foram despejados de suas terras pelos latifundiários da Usina Utinga Leão, cobraram uma atitude do governador do estado, Paulo Dantas, durante uma visita institucional do governo ao município no dia 13 de novembro.
O despejo ocorreu no final de outubro na Área Revolucionária Renato Nathan. Mais de mil famílias camponesas viviam nas terras ocupadas desde 2008. Os camponeses tinham construído casas de alvenaria e produziam cotidianamente para abastecer as feiras locais. Tudo foi destruído pelo despejo, que contou com apoio do governo do estado através da mobilização da Polícia Militar.
A visita de Paulo Dantas ao município foi para inaugurar uma creche. Ela foi anunciada de última hora, talvez para evitar um protesto dos posseiros. O governador também se reuniu, na surdina, com o prefeito de Messias, para tratar da situação dos posseiros, mas sem a participação dos camponeses, que são os mais afetados pela situação.
LCP descobriu visita e mobilizou camponeses
A Liga dos Camponeses Pobres (LCP) soube da visita de Dantas e de pronto mobilizou os camponeses para protestar. Integrantes do Comitê de Apoio aos Posseiros de Messias e estudantes do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Alagoas também foram ao protesto.
Durante o ato, os manifestantes exigiram a desapropriação das terras da Usina Utinga Leão, entrega da área aos camponeses e indenização aos posseiros no valor dos bens destruídos e perdidos durante o despejo.
O protesto se concentrou em uma praça próxima à creche. A Polícia Militar (PM) acionou homens fortemente armados para cercar os posseiros e impedir a chegada até a creche. Os posseiros não se intimidaram e continuaram com a manifestação.
Ô Usineiro, pode esperar! A sua hora vai chegar! e É terra! É terra! A quem nela trabalha! Viva agora e já a Revolução Agrária! É morte! É morte! Ao latifundiário! E viva o poder camponês e operário! foram alguns dos gritos dos camponeses.
Os posseiros também levantaram bandeiras vermelhas com a sigla da Liga dos Camponeses Pobres, cartazes com as exigências dos camponeses e uma faixa pintada com as palavras Viva a Revolução Agrária! Morte ao latifúndio! Fora Utinga Leão! .
Governador chegou de helicóptero
O governador Paulo Dantas chegou no evento de helicóptero e foi embora da mesma foram, sem conversar com as famílias. De acordo com fontes do correspondente local de AND , a única referência do governador às famílias durante o evento foi a promessa vazia de que “tentaria ajudar os desabrigados”.
Os posseiros se revoltaram com a postura do governador. Alguns denunciaram o caráter farsesco da eleição por meio de gritos como Eleição é farsa! Não muda nada não! Organizar o povo pra fazer Revolução! .
Outros falaram que a creche não vai funcionar por conta do estado da cidade. “Messias está sem energia por conta dos cortes que a Usina fez. Ele veio inaugurar creche sem nem sequer estar com um sistema de água e energia funcionando lá dentro? Veio só para aparecer e nem pisou no chão”, disse. “E ainda, lá de dentro, diz que vai nos ajudar! Por que não veio aqui, falar na nossa cara? Covarde!”.
“Para que construir uma creche se as crianças nem tem casa para morar?” questionou outro camponês.
Segundo avaliação de uma ativista da LCP, o ato foi “vitoriosíssimo por encorajar os posseiros que em movimento aumentam sua disposição de luta e de retomar suas terras. Também foi importante no sentido de desmascarar o governo estadual, que vira as costas para os camponeses, evidenciando que na luta pela terra é necessária a confiança no próprio povo e em sua organização, e que só o povo organizado retomará suas terras. O povo hoje fez tremer os usineiros e seus defensores e esse é só o começo”.
Novos protestos
Segundo a LCP e o Comitê de apoio aos Posseiros de Messias, os ativistas vão organizar, no dia 20 de novembro, Dia do Povo preto, um protesto para cobrar a desapropriação da usina, as indenizações e defendendo a retomada das terras pelos camponeses.
O AND seguirá acompanhando a situação.