Barro é uma cidade no interior do Ceará, com uma população de aproximadamente 19.000 habitantes. Sua formação histórica é marcada pela constante presença do coronelismo, que dominava as pequenas comunidades da região durante a República Velha. O Major José Inácio de Souza é um dos personagens mais proeminentes dessa história, tendo formado um exército de 700 jagunços e desempenhado um papel significativo na Guerra do Juazeiro, estabelecendo alianças com cangaceiros e outros senhores de terras locais.
Devido a sua estreita ligação com o cangaço, José Inácio acabou sendo responsabilizado por um assalto a um importante deputado da época, o que levou o governo federal a intervir diretamente em Barro, enviando o militar Felipe Gago para governar a região por um breve período. Sua administração foi marcada por abusos de poder, altos impostos e práticas de terrorismo de Estado.
Em 1951, Barro alcançou sua emancipação do município de Milagres, tornando-se uma nova unidade administrativa. O principal protagonista nesse processo foi o ex-deputado Justino Alves Feitosa, que, junto à família André, conseguiu transformar a povoação em uma unidade municipal, superando o distrito de Iara, que também almejava um maior nível de urbanização e emancipação. Desde então, Barro se transformou em um curral eleitoral dominado por uma pequena elite, na qual as famílias Tavares e Feitosa alternam-se no poder executivo.
Economia de cabresto
De acordo com o censo de 2022, Barro possui 1.300 empregos com carteira assinada. A ocupação predominante entre esses trabalhadores é a de professores de ensino fundamental (primeira a quarta série), com 223 profissionais, seguida por trabalhadores de serviços de limpeza e conservação de áreas públicas (169) e agentes de saúde pública (68).
Um morador do município, que não quis se identificar, relatou ao AND que o uso do serviço público como ferramenta eleitoral se tornou comum, no qual trabalhadores contratados são pressionados a votar na gestão vigente, sob pena de perder o emprego.
Os concursados, por sua vez, enfrentam a ameaça de serem deslocados para regiões distantes de suas residências, transformando os cargos públicos em instrumentos de controle político que ameaçam e chantageiam a população local.
“Sempre fomos obrigados a votar na gestão que está no poder. Nenhum dos que entram no cargo deseja diversificar a economia. Tanto o ex-prefeito Marquinélio quanto o atual gestor mantêm a cidade refém dos serviços públicos, para se manterem próximos aos trabalhadores, controlando e manipulando suas posições políticas.”, disse o morador.
A Farsa do Desenvolvimento
Nem a oligarquia Tavares, conhecida como “A Farinha”, nem a oligarquia Feitosa, referida como “Os Leite”, são capazes de promover um verdadeiro desenvolvimento para o município. Mesmo a gestão de George, que obteve um alto índice de apoio popular, não conseguiu resolver problemas que persistem há séculos.
O novo ensino médio continua sendo implementado, e o povo continua lutando por contratos temporários que não oferecem estabilidade. Todo o desenvolvimento político levado a cabo por George Feitosa, na realidade não transformou em nada a secular estrutura de opressão que reina na cidade.