A Vigilância Sanitária de Mandaguari interditou, na manhã do dia 8 de novembro, uma comunidade terapêutica localizada à beira da rodovia PR-444, em decorrência de uma série de irregularidades que o local apresentava, entre elas: assédio, cárcere privado, ausência de controle de qualidade da água, falta de controle sobre os medicamentos aplicados e não-realização de exames no momento da admissão dos internos.
Um dos responsáveis pela comunidade estava presente no local e acompanhou a interdição.
Uma semana antes da interdição, durante a fiscalização, os agentes constataram muitas irregularidades no local, que não tinha responsável técnico. A comunidade terapêutica contava, no total, com 21 internos, incluindo um adolescente, encontrado no local. Todos receberam acompanhamento psicológico e foram assistidos pela Secretaria de Assistência Social do município.
De acordo com o Chefe da Vigilância Sanitária, Adriano Borges, conforme relatos, alguns internos eram mantidos na comunidade contra a própria vontade: “Aqui (a internação), devia ser uma questão voluntária: o interno deveria poder entrar e sair no momento em que desejasse, e não era o que acontecia. Os internos, segundo as denúncias, eram mantidos em cárcere privado. E tem a questão do assédio, questão alimentar e a qualidade da água, entre outras questões sanitárias, também irregulares.”
Governo do Paraná é o financiador
Por mais chocante que o caso possa parecer, trata-se de realidade cada vez mais comum no País, onde o necessário amparo social e psicológico do povo tem sido delegado ao obscurantismo das assim chamadas comunidades terapêuticas .
Neste sentido, o estado do Paraná não fica atrás. Ainda no fim de outubro, o Governador do estado do Paraná, Sr. Ratinho Jr., anunciou, no dia o investimento anual de 10 milhões de reais para as comunidades terapêuticas, estas que fazem parte do Programa de Atenção às Pessoas em Situação de Uso Prejudicial de Álcool e Outras Drogas.
Vale ressaltar que a maioria dessas unidades são ligadas à entidades religiosas. Além disso, muitas dessas já foram denunciadas por tortura, maus tratos, cárcere privado e trabalho forçado. Os principais tratamentos, segundo as denúncias, combinam abstinência, conversão religiosa, internação compulsória e trabalho forçado, métodos que contrariam todas as correntes científicas no campo da psicologia.
Após o anúncio da verba, o governador do estado do Paraná ainda defendeu as comunidades terapêuticas como uma forma de fazer o que “o Estado não pode”.
Em nota publicada no dia 29/10, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná rebateu: “Denunciamos que não é correto ofertar esses serviços como se não houvesse alternativa adequada, utilizando o sofrimento como combustível para fins de acúmulo financeiro, religiosos e eleitorais”.