Militares que estavam por trás dos planos de golpe da extrema-direita bolsonarista em 2022 planejaram usar os galinhas verdes dispostos em acampamentos na frente de quartéis e em outras ações pelo País para pressionar o Alto Comando do Exército (ACE) a embarcar na ruptura institucional naquele momento, segundo informações extraídas de mensagens entre o general Mário Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu divulgadas hoje.
As mensagens foram reveladas um dia depois da prisão de cinco indivíduos envolvidos em um plano para assassinar Luiz Inácio, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, para culminar o golpe de Estado em 2022. As informações trazidas à tona comprovam que um núcleo militarizado ligado ao governo de Bolsonaro e seus ministros militares, e com ligação a alguns latifundiários e grandes burgueses, estava por trás do movimento de massas de galinhas verdes que agitou por uma ruptura institucional imediata no segundo semestre de 2022.
De acordo com as mensagens, Fernandes e Abreu estavam descontentes com a posição do ACE sobre a ruptura institucional. “Cinco (generais) não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso, infelizmente”.
É sabido que os generais do Alto Comando do Exército chegaram a discutir a implementação de um Estado de Defesa no País, em meados de 2022, e decidiram, por maioria simples, que não era o momento, principalmente por conta das orientações do Estados Unidos (EUA) contrárias à ruptura institucional.
‘Forçar a barra com o Alto Comando’
Essa ruptura encorajou os golpistas favoráveis à ruptura imediata a usarem os galinhas verdes para pressionar o Alto Comando. “O senhor tem que dar uma forçada de barra com o Alto Comando, cara. Com o general Freire Gomes, com o general Paulo sérgio, porra. Tá na cara que houve fraude, porra. E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra que ela se mantenha nas ruas e aí, sim, talvez seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Porque como o senhor disse mesmo, boa parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não ‘tá’ muito disposto, né? Ou não vai partir pra intervenção a não ser que pô, o start seja feito pela sociedade. Pô, general, reforça isso aí. Eu tô fazendo meu trabalho junto à Brigada (de Operações Especiais) e ao pessoal de divisão (generais) da minha turma (de 1986, da Academia da Agulhas Negras), cara. Força, Kid Preto”.
Para Fernandes, era necessário que Bolsonaro desse ordem para culminar o golpe. “Porra, Velame (Abreu), cara, eu continuo batendo nessa tecla. Negão, eu tô começando a pensar que, porra, as Forças Armadas estão do jeito que o General Teófilo colocou mesmo no texto dele hoje, certo? Estão esperando a decisão política. Se não houver essa decisão política, não vão fazer nada. E aí elas estão sendo usadas mesmo como um pivô, porra. Tem o dissidente, tem os filhas da puta lá, tem já, tá comprovado. Mas, porra, nós sabemos que é um colegiado, cara. cinco caras não iam interferir tanto assim. Cara, porra, o presidente tem que decidir e assinar esta merda, porra”.
Em resposta, Abreu chega a propor a implosão do Alto Comando e substituição por outra estrutura. “Ô, Kid Preto, faz igual nos Estados Unidos, Chefe de Estado Maior do Exército, da Martinha e da Aeronáutica. No Uruguai é assim também. E o Comandante Conjunto”.
Relutância de Bolsonaro
Os militares da extrema-direita bolsonarista também se irritaram com a relutância de Bolsonaro em assinar a ordem de golpe. Eles tinham medo de que, caso a ruptura demorasse muito, o movimento de massas dos galinhas verdes poderia esfriar. Mario Fernandes comentou sobre esse receio com Bolsonaro, e depois revelou a Mauro Cid. “Cid, boa noite. (…) A gente não pode perder a oportunidade. (…). Eu cheguei a citar isso pra ele (ao Bolsonaro), das duas uma, ou os movimentos de manifestação na rua, ou eles vão esmaecer, ou vão recrudescer. Recrudescer com radicalismos e a gente perde o controle, né? pode acontecer de tudo. Mas podem esmaecer também”.
Cid respondeu que: “Pode deixar, general. Vou conversar com o presidente. O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes. Ele espera, espera, espera, espera pra ver até onde vai, ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo tá curto, não dá pra esperar muito mais”.
Nas conversas entre Fernandes e Abreu, a mesma impaciência foi demonstrada. “Tem o dissidente, tem os filha da p… lá, tem, já tá comprovado. Mas nós sabemos que é um colegiado, cara. Cinco caras não iam interferir tanto assim. (…) Cara, o presidente tem que decidir e assinar esta m…”, disse o general Fernandes.
O coronel Abreu estava no mesmo tom. “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o caralho. Quatro linhas da Constituição é o cacete. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, disse ele, em diálogos anteriores.