‘Inflamar a massa, como foi em 64’: Forças Especiais queriam usar galinhas verdes para pressionar Alto Comando - A Nova Democracia


Author: Enrico Di Gregorio
Categories: Situação Política
Description: Mensagens foram divulgadas depois da prisão de Forças Especiais que preparam plano de ruptura institucional em 2022. Militares queriam pressionar Alto Comando e também reclamaram da relutância de Bolsonaro em dar a ordem para o golpe.
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Modified Time: 2024-11-20T11:04:01-03:00
Published Time: 2024-11-20T22:03:57+08:00
Sections: Situação Política
Tags: 8 de janeiro, golpe de Estado
Type: article
Updated Time: 2024-11-20T11:04:01-03:00
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Militares que estavam por trás dos planos de golpe da extrema-direita bolsonarista em 2022 planejaram usar os galinhas verdes dispostos em acampamentos na frente de quartéis e em outras ações pelo País para pressionar o Alto Comando do Exército (ACE) a embarcar na ruptura institucional naquele momento, segundo informações extraídas de mensagens entre o general Mário Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu divulgadas hoje.

As mensagens foram reveladas um dia depois da prisão de cinco indivíduos envolvidos em um plano para assassinar Luiz Inácio, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, para culminar o golpe de Estado em 2022. As informações trazidas à tona comprovam que um núcleo militarizado ligado ao governo de Bolsonaro e seus ministros militares, e com ligação a alguns latifundiários e grandes burgueses, estava por trás do movimento de massas de galinhas verdes que agitou por uma ruptura institucional imediata no segundo semestre de 2022.

Forças Especiais são presos por preparar ruptura institucional; Bolsonaro, Augusto Heleno e Braga Neto estão envolvidos – A Nova Democracia
A Polícia Federal prendeu cinco indivíduos, incluindo quatro militares do Exército e um policial federal, por envolvimento em um plano golpista que visava assassinar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes, em 2022. Batizada de “Contragolpe”, a operação revelou documentos e mensagens que detalham o plano “Punhal Verde e Amarelo”, liderado por militares ligados ao governo Bolsonaro. A investigação aponta que o grupo planejava criar uma crise institucional para instaurar uma ditadura militar com apoio de latifundiários e da direita militar.
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De acordo com as mensagens, Fernandes e Abreu estavam descontentes com a posição do ACE sobre a ruptura institucional. “Cinco (generais) não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso, infelizmente”.

É sabido que os generais do Alto Comando do Exército chegaram a discutir a implementação de um Estado de Defesa no País, em meados de 2022, e decidiram, por maioria simples, que não era o momento, principalmente por conta das orientações do Estados Unidos (EUA) contrárias à ruptura institucional.

‘Forçar a barra com o Alto Comando’

Essa ruptura encorajou os golpistas favoráveis à ruptura imediata a usarem os galinhas verdes para pressionar o Alto Comando. “O senhor tem que dar uma forçada de barra com o Alto Comando, cara. Com o general Freire Gomes, com o general Paulo sérgio, porra. Tá na cara que houve fraude, porra. E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra que ela se mantenha nas ruas e aí, sim, talvez seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Porque como o senhor disse mesmo, boa parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não ‘tá’ muito disposto, né? Ou não vai partir pra intervenção a não ser que pô, o start seja feito pela sociedade. Pô, general, reforça isso aí. Eu tô fazendo meu trabalho junto à Brigada (de Operações Especiais) e ao pessoal de divisão (generais) da minha turma (de 1986, da Academia da Agulhas Negras), cara. Força, Kid Preto”.

Para Fernandes, era necessário que Bolsonaro desse ordem para culminar o golpe. “Porra, Velame (Abreu), cara, eu continuo batendo nessa tecla. Negão, eu tô começando a pensar que, porra, as Forças Armadas estão do jeito que o General Teófilo colocou mesmo no texto dele hoje, certo? Estão esperando a decisão política. Se não houver essa decisão política, não vão fazer nada. E aí elas estão sendo usadas mesmo como um pivô, porra. Tem o dissidente, tem os filhas da puta lá, tem já, tá comprovado. Mas, porra, nós sabemos que é um colegiado, cara. cinco caras não iam interferir tanto assim. Cara, porra, o presidente tem que decidir e assinar esta merda, porra”.

Em resposta, Abreu chega a propor a implosão do Alto Comando e substituição por outra estrutura. “Ô, Kid Preto, faz igual nos Estados Unidos, Chefe de Estado Maior do Exército, da Martinha e da Aeronáutica. No Uruguai é assim também. E o Comandante Conjunto”.

Relutância de Bolsonaro

Os militares da extrema-direita bolsonarista também se irritaram com a relutância de Bolsonaro em assinar a ordem de golpe. Eles tinham medo de que, caso a ruptura demorasse muito, o movimento de massas dos galinhas verdes poderia esfriar. Mario Fernandes comentou sobre esse receio com Bolsonaro, e depois revelou a Mauro Cid. “Cid, boa noite. (…) A gente não pode perder a oportunidade. (…). Eu cheguei a citar isso pra ele (ao Bolsonaro), das duas uma, ou os movimentos de manifestação na rua, ou eles vão esmaecer, ou vão recrudescer. Recrudescer com radicalismos e a gente perde o controle, né? pode acontecer de tudo. Mas podem esmaecer também”.

alto comando
Foto: Reprodução

Cid respondeu que: “Pode deixar, general. Vou conversar com o presidente. O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes. Ele espera, espera, espera, espera pra ver até onde vai, ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo tá curto, não dá pra esperar muito mais”.

Nas conversas entre Fernandes e Abreu, a mesma impaciência foi demonstrada. “Tem o dissidente, tem os filha da p… lá, tem, já tá comprovado. Mas nós sabemos que é um colegiado, cara. Cinco caras não iam interferir tanto assim. (…) Cara, o presidente tem que decidir e assinar esta m…”, disse o general Fernandes.

O coronel Abreu estava no mesmo tom. “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o caralho. Quatro linhas da Constituição é o cacete. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, disse ele, em diálogos anteriores.

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